O Paradoxo da Intensidade
Carta aberta a Novembro

O sol põe-se.
Lá fora, as luzes acendem.
Lá dentro, as luzes apagam.
Para uns,
A cidade adormece.
Para outros,
A cidade acorda.
O sol nasce.
Lá fora, as luzes apagam.
Lá dentro, as luzes acendem.
Para os que vivem ao jeito da rotina,
A cidade acorda.
Para os que a tentam contrariar,
A cidade acaba finalmente por adormecer.
Numa tentativa de equilíbrio nada perfeita entre a suspensão no ar que sufoca e o chão (porque não há para onde mais cair.), paro para contemplar a intensidade das antíteses em que vivo.
Paro porque quero. (Ou porque assim me é exigido.) Mas já o despertador se confunde com as badaladas da Sé. A vontade de me recolher em mim, no conforto desconfortável do silêncio, com o desejo insaciável de evadir o eu exposto na vulnerabilidade das feridas para um lugar incerto. A ponte firme entre a razão e a emoção. Iluminada por uma esperança trémula, mas suficiente para me guiar em cada passo meu.
A incerteza, a imprevisibilidade, a dualidade. As luzes acenderem e apagarem. O adormecer e o acordar. O Sol nascer e desaparecer, mas permanecer lá, num intermédio de splashes laranja no céu deste final tarde, em que te tive nos meus braços. Quero girar em torno dele, acompanhar cada movimento seu. Enraizado na terra que me nutre, ser um girassol, plantar um campo deles… mas dos verdadeiros, dos reais (deixemo-nos de artifícios). Viver no paradoxo frenético da metrópole e repousar na mansidão da montanha. Sentir o calor do toque que quero que me pertença, que evapore nos meus poros, e o frio da neve na pele a arrepiar de amor.
Aqui de cima, observo o reflexo do peso de uma vida na água leve e cristalina que apaga do passado o nosso efémero infinito de sofridão desenhado e transporta da corrente da vida todos os sonhos partilhados que se irão concretizar.
Não é sobre pontes, cidades, nem candelabros de rua, mas sobre o que foi este outono do mês de novembro.
E os campos de girassois que continuam a florescer a cada primavera…