Nasci para contar histórias

02-09-2024

Carta aberta ao Mar

Nasci para contar histórias

Sei-o desde o colo da minha mãe

Dos serões passados a seu lado

na banca da cozinha sentada

A perder-me na própria voz,

no entusiasmo dos relatos,

na solitude dos pensamentos,

da imaginação.


Cresci

e passei a contar ao mar.


Pouso a face tenra molhada

Ouço o búzio murmurar

a angústia e a dor

os monólogos, penso eu,

porque as conversas…

essas são da solitude da imaginação, talvez.

Sinto a hesitação,

a aflição,

o não saber dizer que não.

Um dia quero escutar essas histórias

sem deixar de as contar

Ouvir sem deixar de falar.


Quero escrever poemas sobre o silêncio

Ler cartas de amor nunca antes enviadas

sobre o que fica por dizer.


Quero ser grande

e a pequenez do abraço casa.

Ser fluente no conforto do silêncio

e nas palavras certas.


Quero ser testemunha

De amores vencidos

De amores vividos.


Ser batalhas

Ser amor

Ser esperança de que há ir e voltar.


Porque hoje sou murmúrio de búzio

Mas amanhã serei mar.