Nasci para contar histórias
Carta aberta ao Mar

Nasci para contar histórias
Sei-o desde o colo da minha mãe
Dos serões passados a seu lado
na banca da cozinha sentada
A perder-me na própria voz,
no entusiasmo dos relatos,
na solitude dos pensamentos,
da imaginação.
Cresci
e passei a contar ao mar.
Pouso a face tenra molhada
Ouço o búzio murmurar
a angústia e a dor
os monólogos, penso eu,
porque as conversas…
essas são da solitude da imaginação, talvez.
Sinto a hesitação,
a aflição,
o não saber dizer que não.
Um dia quero escutar essas histórias
sem deixar de as contar
Ouvir sem deixar de falar.
Quero escrever poemas sobre o silêncio
Ler cartas de amor nunca antes enviadas
sobre o que fica por dizer.
Quero ser grande
e a pequenez do abraço casa.
Ser fluente no conforto do silêncio
e nas palavras certas.
Quero ser testemunha
De amores vencidos
De amores vividos.
Ser batalhas
Ser amor
Ser esperança de que há ir e voltar.
Porque hoje sou murmúrio de búzio
Mas amanhã serei mar.