Voz da Liberdade
A Mudança de gerações

Não é autobiográfico,
Mas em honra de todAs nós.
As avós, mães, filhas e netas.
Para que nos percamos sempre na Liberdade
E morramos a amá-la.
Conseguimos voar.
Aquela música.
Ouço com atenção.
É-me, toda ela, familiar:
Recorda-me o que é a honra.
A voz.
A minha avó.
Mulher de alguidares na cabeça até à fonte,
Ceifeira de sol a sol desde sempre.
Corpo formato de violão,
Mãos de arco,
Coluna de cordas
presas
desafinadas no dó
por quem obrigou a escuta,
mas não a escutou.
Cantara baixinho no silêncio da noite
e bailara sozinha com a saia pelo chão.
Amou, perdeu-se e morreu amando
o que se tornou desgosto.
Infortunada por não poder revelar ao mundo
a canção da vida
pelo próprio grito.
Nem o seu eco…
Cresceu a acreditar que amor é medo,
fuga
agonia
súplica
des-alívio.
Quando a semente da minha mãe foi plantada,
dera-lhe o nome da Saudade
do que não viveu.
A mim o nome da Esperança
do que almejara viver.
Cresci a acreditar que não foi em vão.
Hoje,
Cá de cima,
Danço valsa nas suas sombras.
Toco-lhe o coração como se a alcançasse.
Como se o difundisse em mim.
Mostro-lhe palcos do topo do mundo para se expressar.
Sem dó.
Mas com tudo o que não chegou a sentir:
o ré, o mi, o fá, o sol
e lá, faço piruetas no amor e na vida.
Porque
Amei, perdi-me e talvez morri amando a liberdade.
Olha, avó, mãe, consigo voar.