Voz da Liberdade

05-04-2025

A Mudança de gerações

Não é autobiográfico,

Mas em honra de todAs nós.

As avós, mães, filhas e netas.

Para que nos percamos sempre na Liberdade

E morramos a amá-la.

Conseguimos voar.


Aquela música.

Ouço com atenção.

É-me, toda ela, familiar:

Recorda-me o que é a honra.

A voz.

A minha avó.


Mulher de alguidares na cabeça até à fonte,

Ceifeira de sol a sol desde sempre.

Corpo formato de violão,

Mãos de arco,

Coluna de cordas

presas

desafinadas no dó

por quem obrigou a escuta,

mas não a escutou.


Cantara baixinho no silêncio da noite

e bailara sozinha com a saia pelo chão.


Amou, perdeu-se e morreu amando

o que se tornou desgosto.

Infortunada por não poder revelar ao mundo

a canção da vida

pelo próprio grito.

Nem o seu eco…


Cresceu a acreditar que amor é medo,

fuga

agonia

súplica

des-alívio.


Quando a semente da minha mãe foi plantada,

dera-lhe o nome da Saudade

do que não viveu.

A mim o nome da Esperança

do que almejara viver.

Cresci a acreditar que não foi em vão.


Hoje,

Cá de cima,

Danço valsa nas suas sombras.

Toco-lhe o coração como se a alcançasse.

Como se o difundisse em mim.

Mostro-lhe palcos do topo do mundo para se expressar.

Sem dó.

Mas com tudo o que não chegou a sentir:

o ré, o mi, o fá, o sol

e lá, faço piruetas no amor e na vida.


Porque

Amei, perdi-me e talvez morri amando a liberdade.


Olha, avó, mãe, consigo voar.